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Poliomielite está de volta no Brasil?

Publicado em
25/10/2022
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O caso de uma criança de três anos que apresentou perda de forças nas pernas, febre e dores musculares no Pará está sendo investigado pela Secretaria de Saúde do estado. A ocorrência, segundo o Cievs (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde) paraense, foi previamente notificada como poliomielite associada ao vírus vacinal (VAPP), mas o diagnóstico ainda não foi concluído.

De acordo com nota do Ministério da Saúde, existe a suspeita de que o quadro esteja relacionado a um "erro no esquema vacinal contra a poliomielite" —a criança não estava completamente imunizada. A pasta destacou que não se trata de um caso do poliovírus da chamada cepa selvagem, erradicada no Brasil desde 1989, e informou que não há registro de circulação viral da poliomielite no país.

O caso foi registrado em um menino de três anos em Santo Antônio do Tauá, no nordeste do Pará.

Antes de entender o episódio, é preciso lembrar que existem duas vacinas contra a poliomielite: a VPO (vacina pólio oral) ou Sabin, também conhecida como "gotinha"; e a VIP (vacina inativada pólio) ou Salk, administrada por via intramuscular, ou seja, com uma injeção.

A possibilidade de um quadro de poliomelite associada ao vírus vacinal (VAPP) na criança paraense foi levantada porque um exame nas fezes do menino deu resultado positivo para o poliovírus Sabin Like 3, um dos componentes da dose de reforço contra a pólio, a gotinha. A análise da amostra foi feita pelo Instituto Evandro Chagas.

A criança começou a apresentar sintomas em 21 de agosto, um dia depois de ter recebido a VPO (gotinha). O paraense, no entanto, não havia recebido anteriormente a VIP (injeção), como orienta o PNI (Plano Nacional de Imunizações).

Ele só havia recebido duas doses de vacina oral. A primeira foi em junho do ano passado e, a segunda, em agosto deste ano.

A orientação é de que a gotinha não deve ser administrada antes de ter sido aplicada a injeção contra a doença.

Isso porque a VIP (injeção) contém partículas mortas do vírus da poliomielite, enquanto a gotinha (VOP) apresenta vírus vivos atenuados (que não causam a doença). Receber a versão da vacina com vírus morto antes daquela com vírus atenuado reduz substancialmente a chance de paralisia associada à vacina, situação cujo risco já é muito baixo.

Esse caso traz dois alertas. O primeiro é a baixa cobertura vacinal, que infelizmente é uma realidade no nosso país. E o segundo é que é preciso ter atenção no sentido de receber as vacinas de acordo com o calendário nacional de imunização.

VAPP é improvável, mas caso deixa alerta

Não é possível concluir que o caso de paralisia registrado no Pará esteja associado ao vírus vacinal somente com base nas fezes da criança. É necessário aguardar o resultado do sequenciamento genético do vírus, que ainda não foi concluído.

É improvável que o caso seja uma VAPP (poliomelite associada ao vírus vacinal), principalmente porque, segundo as informações divulgadas até o momento, os sintomas teriam surgido no menino 24 horas após ele ter recebido a gotinha. O quadro clínico foi muito precoce, geralmente não é assim, os sintomas apareceriam em questão de dias.

No entanto, com a baixa cobertura vacinal contra a doença no Brasil, a médica considera que aumenta o risco de crianças receberem a gotinha antes da injeção e é "uma questão de tempo" até que um caso de VAPP seja confirmado no país. É urgente fortalecer a campanha de vacinação contra a poliomielite no país.

A meta do Ministério da Saúde é atingir 95% das crianças de 1 a 4 anos vacinadas na campanha, no entanto, segundo dados de hoje (7/10) do painel de vacinação do órgão, este número ainda ainda está em 62,64%.

Independentemente desse caso ser ou não confirmado como um caso de paralisia flácida aguda relacionada ao vírus vacinal, o mais importante é a gente saber que, infelizmente, com a baixa cobertura vacinal, o nosso país volta a ser um local de alto risco e está vulnerável à reintrodução do vírus da paralisia infantil, em especial o vírus selvagem, erradicado desde 1994 e sem casos desde a década de 80. Crianças com esquema incompleto ou inexistente estão vulneráveis a serem expostas tanto ao vírus selvagem quanto ao vacinal.

Segundo a nota da secretaria da Saúde, outras hipóteses diagnósticas não foram descartadas, como síndrome de Guillain-Barré. "Portanto, o caso segue em investigação conforme o que é preconizado no Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde", diz a nota.

O esquema de vacinação contra a poliomielite é composto de cinco doses, sendo que duas delas são reforços. As três primeiras, aos 2, 4 e 6 meses, devem ser feitas obrigatoriamente com a vacina pólio inativada, a VIP.

Já as duas últimas são feitas com a versão em gotinhas, aos 15 meses e aos 4 anos. Crianças que não estão com as três doses da vacina inativada (injeção) em dia não podem receber gotinhas. Ou seja:

  • 1ª dose (injeção): aos 2 meses
  • 2ª dose (injeção): aos 4 meses
  • 3ª dose (injeção): aos 6 meses
  • 1ª dose de reforço (gotinha): 15 meses
  • 2ª dose de reforço (gotinha): 4 anos

O poliovírus é transmitido de pessoa para pessoa por via fecal-oral ou por água ou alimentos contaminados, e também de forma oral-oral, por meio de gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar.

O vírus ataca o intestino, mas pode chegar ao sistema nervoso e provocar paralisia irreversível —daí o nome paralisia infantil— em membros como as pernas, e também dos músculos respiratórios, levando o paciente à morte. A poliomielite não tem cura, apenas prevenção, que é feita com a vacina.

IMPORTANTE: Somente médicos devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. As informações disponíveis aqui possuem apenas caráter educativo.
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